Diário

O aburguesamento da nossa sociedade e a falta de paciência para a tentar entender.

Hoje dia aziago para mim e para mais uns seis milhões de portugueses, tudo a somar à desgraça em que já vivemos por causas económicas, escreverei acerca da reação das pessoas à situação do país ou ao alheamento dela.
Estive hoje numa festa de anos típica da sociedade portuguesa ou mesmo típica de sociedades aburguesadas, não falo de forma crítica deste tipo de comemorações, até porque frequentemente eu faço parte delas. Ainda assim hoje apetece-me pensar neste assunto tentando perceber porque razão tanto criticamos o nosso modelo e nunca nos atribuímos culpas pela situação que temos.
Conclui da discussão com meia dúzia de pessoas cultas e inteligentes, que a maior parte procura culpar sempre outros das suas desgraças e fazem uma defesa quase corporativa dos seus interesses pessoais ou profissionais. Não percebendo eu se eles querem continuar a manter a situação e tentar intransigentemente manter o seu estilo de vida independentemente de quem é por ele cilindrado socialmente. Mas sei que se a condição de vida se alterar dramaticamente para eles, o seu discurso mudará também, para um lado ou para o outro da barricada conforme a sua ideologia seja mais tolerante ou mais culpabilizante e a quem atribuem a responsabilidade da desgraça.
As nossas sociedades estão acomodadas no nível aburguesado de consumo e pouco ou nada se preocupam em apurar a causa responsável da nossa situação económica e social. Encontram na responsabilização de uns quantos outros a tranquilidade mental para os problemas da humanidade e assim mantemos a triste condição social da maioria das populações.
Esquecem que sem debater violentamente a questão pouco ou nada poderemos avançar. Temos de discutir, por em equação e decidir o que fazer para tentar encontrar uma solução que dentro do sistema o consiga mudar. Percebi que enquanto a agrura não lhes bater à porta se recusam a tentar ver quem são os causadores da pobreza das gentes e que até os incomoda debater a questão por mais que uns minutos.
Não vale a pena idealizar sociedades utópicas e perfeitas, onde cada um produza o seu consumo, não vale a pena sonhar com um mundo onde se proteja o ambiente, não vale a pena achar que na redução individual dos consumos estará a solução e dizer de forma quase arrogante que “se todos fossem como eu nada disto aconteceria”. A solução poderá partir de um ideal pessoal ou de um grupo, mas terá de ser amplificada no sistema político internacional e aceite assim pelos partidos políticos que o compõem.
Como tal temos de dentro do sistema debater e votar em quem nos parece que apresentará uma solução que se aproxime do nosso ideal, sabendo que aqueles que para esta situação de míngua económica nos arrastaram, nunca poderão ser a solução. Esses são claramente os defensores, da iniciativa privada como única força atuante nas sociedades, do lucro como causa ultima de todas as atividades, do emagrecimento dos custos do estado e ainda os que defendem a liberalização total dos mercados de capitais.
Não podemos esquecer que o mundo ocidental é responsável pela maior parte do consumo mundial e apenas representa uma minoria da população do planeta. Se cada cidadão do mundo consumisse o que consome um cidadão europeu médio em quinze anos tornaríamos a terra desértica e estéril, totalmente inabitável para a humanidade. Somos assim os ocidentais os maiores causadores da desgraça do planeta e da pobreza no mundo.
Dois terços da população do mundo, vive hoje com menos que dois dólares por dia por pessoa, sabendo nós que se dividíssemos o PIB mundial por todos os habitantes do planeta teríamos um valor substancialmente maior para cada um diariamente. Sabemos também que o valor que chegaria a cada um, seria bem menor que aquele que hoje chega a cada ocidental se considerarmos a distribuição ocidental em termos médios, já que se for analisada pessoalmente encontraremos nela pessoas que vivem muito perto dos tais dois dólares por dia por pessoa. Esta distribuição da riqueza torna a vida de alguns indigna em termos humanos, agravando tal indignidade pelo facto de viverem portas meis com os mais ricos do mundo.
Para concluir o texto de hoje direi o seguinte, enquanto a maioria das pessoas não olhar a realidade e não a tentar mudar, achando que cada um por si não pode fazer nada e que o mundo fará o seu caminho independentemente do que cada um faça, a nossa triste e indecente condição não terá solução. Apregoou-se um determinado modelo e estilo de vida durante várias décadas e agora, porque uns quantos se apropriaram da maior parte da riqueza e porque uma grande parte dessa riqueza era virtual, quer-se condenar à pobreza os que estão em condição de maior fragilidade económica mas que não têm responsabilidade nenhuma na situação das economias. Estes últimos são claramente os assalariados, publicos ou privados, os idosos sejam ou não pensionistas e ainda os pequenos empresários.
SEI QUE NO CASO PORTUGUÊS, OS GANHOS CIVILIZACIONAIS MAIS SIGNIFICATIVOS E A MELHOR CONDIÇÃO DE VIDA DA POPULAÇÃO, FORAM ALCANÇADOS COM UMA CONSTITUIÇÃO REDIGIDA NO SEGUIMENTO DA REVOLUÇÃO DE ESQUERDA DE ABRIL DE 74, BEM COMO AS GOVERNAÇÕES POR ELA CONDICIONADAS.
HOJE TEMOS UM SISTEMA DISTRIBUTIVO MAIS CASTIGADOR E INDECENTE QUE ANTES DO 25 DE ABRIL DE 1974, TEMO-LO PORQUE CLARAMENTE SE RETIRARAM AO ESTADO AS FERRAMENTAS CAPAZES DE FOMENTAR A CRIAÇÃO DE RIQUEZA E REGULAR A SUA DISTRIBUIÇÃO.
SERÁ ASSIM TEMPO DE NOVA REVOLUÇÃO DE ESQUERDA?

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