Hoje ouvimos o Presidente da República, falar das manifestações, pela primeira vez, e para dizer que as vozes dos que se manifestam têm de ser ouvidas.
Ouvidas serão por muita gente certamente, mas só duas entidades podem retirar consequências práticas de as ouvir, e essas são: o governo, que já percebemos que é surdo efetivamente ou então tão casmurro e arrogante, tornando Sócrates um cordeirinho humilde, fazendo de conta que não houve ninguém na rua, não podendo assim ouvir vozes nenhumas. A outra entidade é o Presidente da República, que tem alguns poderes, embora não pareça, podendo com eles dar o devido eco a essas vozes.
Ouvimo-lo dizer que trabalha dez horas por dia na tentativa da resolução dos problemas dos portugueses, ouvimo-lo mesmo puxar dos galões para afirmar categoricamente, que não existe ninguém tão experiente como ele, pois foi primeiro-ministro e agora presidente, disse ainda que sabe coisas que ninguém sabe, o que soa quase a superioridade bacoca.
Terá conhecimento de factos e de condicionalismos que outros não têm, terá ainda informações privilegiadas em relação a algumas matérias, tem um grupo enorme de assessores que lhe compilarão e farão chegar os elementos tratados. Mas daí a dizer que sabe mais disto do que ninguém deveria ir alguma distância. Diz que não será por ser mais ou menos mediático que será mais eficaz, com isso concordamos em absoluto, mas tem de tomar medidas se diz, como hoje repetiu, que estamos numa espiral recessiva, e estamos sim senhor, diz que fala com o primeiro-ministro, não sabemos do que falarão, já que ele, Passos Coelho, não parece ter o mesmo entendimento nem parece querer inverter o rumo que até agora trilhou.
Manteria tanto silêncio o Presidente Cavaco, se o primeiro-ministro ainda fosse o Sócrates? Pois temos a certeza que não. Vejam-se os recados que sistematicamente mandava nesses tempos Socráticos. Agora que nem sequer poderá ser de novo presidente, onde poderia ser interventivo sem sofrer com isso do escrutínio popular, e assim tomar as medidas e praticar o tal magistério de influência que a constituição lhe consagra, sem reservas de cariz eleitoral, não o faz, ou se faz, é em recatada posição e com isso não tem alcançado resultados nenhuns. A cada trimestre os indicadores são piores.
Bem sabemos que assume que estamos em espiral recessiva, contrariando a tese do governo, mas mais nada, depois diz que o único caminho é o crescimento, com um pouco de jeito o meu filho e tem catorze anos, também o entenderá. Mas porque raio então, é que o não assume claramente e diz que o governo tem de mudar de rumo ou então terá de sair e deixar vir outros que apostem no crescimento em vez de sermos só bons alunos.
Pior é que nem somos bons alunos, pois para termos boas notas em todas as avaliações, é preciso sistematicamente mudar a escala de avaliação, retirando sempre exigência. Ele é alargando os períodos para cumprimentos dos valores, ele é aumentando o valor do deficit admissível em alguns anos e ainda concedendo outras benesses. Além de que não acertamos numa previsão em nenhum parâmetro da economia, saindo tudo pior ou muito pior que o previsto. O que dirá então sobre isto o Sr. Presidente ao Sr. primeiro-ministro nas suas reuniões semanais ou lá o que são em termos de periodicidade? Que lhe segredará e que não quer publicitar?
Vamos gostar de ver o que dirá o Sr. presidente em abril, quando se fizer a análise da execução orçamental do primeiro trimestre de 2013, mas com o aumento das prestações sociais pela via do subsidio de desemprego e pela queda da receita para a Seg. Social, IVA, IRS, ISP etc etc. Ao que se somará a contração do PIB. Boa coisa não poderá dizer o Sr. presidente.
Já a Troika, antes de nova avaliação terá de mudar de novo a escala, se nos quiser dar boa nota, os tais senhores a quem tanto queremos agradar. Ou então mesmo sem nota, levamos equivalência à relvas, já que também estes iluminados senhores, sabem que têm culpas no cartório, pois aprovaram o plano de resgate e agora limitam-se a obrigar a que seja cumprido. Não haverá duvidas que a culpa deste plano é da Troika, do PS do PSD e do CDS, pois foram quem o negociou e assinou. Não se esqueçam do ufano Catroga e a sua fotografia, dizendo que havia obrigado o PS a um plano muito acertado, contrariamente ao que este queria propor, convém mesmo lembrar que este senhor Catroga estava nas negociações escolhido e mandatado pelo senhor Pedro Passos Coelho, à altura presidente do PSD e candidato ao lugar de primeiro-ministro, que infelizmente ocupou.
O que responderá o o primeiro-ministro ao senhor presidente quando este lhe diz que sem crescimento não há futuro? Que o crescimento não se faz por decreto, como lhe ouvimos dizer na AR, por mais que uma vez. Pois todos sabemos que não se faz por decreto, faz-se implementando medidas, ainda que fazendo uso do tal deficit virtuoso, já que temos deficit, que ele sirva para fomentar o crescimento.
Para o colapso total, falta a bomba da decisão do TC sobre a constitucionalidade de parte do orçamento e a vinda do tal plano B do governo para que o país mergulhe ainda mais na recessão e no constante empobrecimento por décadas, as tais que o primeiro-ministro falava hoje que são necessárias para trazer o endividamento para baixo dos 60% do PIB, impostos pelo pacto de estabilidade e crescimento da UE. O que dirá perante isso o senhor Presidente? Fará como até agora, trabalhando muito mas calado? Eu preferiria ao contrário, trabalhe menos ouça mais o povo e inquiete o governo ou no limite demita-o, dissolvendo a AR. As vozes de sábado é isso que querem, DEMISSÃO, ouviu Sr. Presidente?
O QUE SERÁ PRECISO ACONTECER EM PORTUGAL, PARA QUE O PRESIDENTE DA REPUBLICA PUXE AS ORELHAS AO GOVERNO PUBLICAMENTE, OBRIGANDO-O A MUDAR DE RUMO OU A DEMITIR-SE?