Diário

PS e a sua moção de censura.

Agora é que de todo não entendemos mais isto. Este PS tem atitudes que se não podem entender, ou podem, mas apenas à luz dos interesses partidários e de política dirigida, usuais nas esclerosadas estruturas partidárias.
Hoje a CDU apresentou uma proposta na AR para ser votada e onde se convidava o governo a demitir-se. Logo o PS pela voz do deputado Lacão se demarcou da possibilidade de votar essa proposta favoravelmente e informou que votariam contra e assim alinhados com os previsíveis votos dos partidos da coligação de governo. Bonito mesmo era o CDS votar alinhado com a CDU, coisa que se não vislumbra, mas teria contornos surreais.
Ora pois o PS hoje anuncia votar contra uma proposta da CDU para que o governo se demita, mas amanhã apresenta a sua moção de censura, em teoria com o propósito de fazer cair o governo e justificando-a com a “pré-ruptura social” e com uma contundente e pouco séria frase de “basta de sacrifícios”, além de que afirma que “o país assim não vai lá” e que “são só falhanços” as ações deste governo.
Não deixa de ter razão nas motivações o PS. Mas que atitudes são estas de busca de protagonismo político, quando o que se pretende, sabe-se agora, nos três partidos da oposição é que o governo se demita? Não seria melhor terem concertado posições e ou votarem todos a favor da proposta da CDU, que tal como a moção do PS, não terá efeitos práticos, apenas uma assunção de uma vontade política? Esta decisão legitimava o voto favorável da CDU e provavelmente do BE na moção de censura do PS e daria força à oposição e um desígnio comum à esquerda. Pois se agora a CDU votar contra ou se abstiver nesta moção, que antes pedia com insistência, mais não é que retaliar a tonta atitude do PS com outra tonta, mas legitima, atitude.
Querem ou não que o governo se demita os três partidos à esquerda na AR? Pois se querem não seria melhor unir-se e encontrar um caminho comum? Será com birras e demonstrações de pequenos poderes que chegarão ao interesse comum de derrubar o governo? Quando foi para chumbar o PEC IV do governo Sócrates, o PSD e o CDS não tiveram pejo em votar alinhados com a CDU e o BE, na busca de um desígnio comum, a queda do governo do PS. Será difícil agora manifestarem em conjunto a sua vontade, os três partidos da oposição?
De todo não entendemos estas movimentações políticas de interesse exclusivamente partidário e achamos mesmo que elas apenas descredibilizam aos olhos dos portugueses as soluções de governação e os partidos políticos.
Os deputados e os partidos em que militam ou nas listas de quem são eleitos, deviam ter posturas sérias e colocar os superiores interesses do país e seus cidadãos adiante dos interesses partidários e das buscas de protagonismo.
O que pretenderá o PS? Bom, sabemos que sonham com uma maioria absoluta, mas para já pensamos que podem desenganar-se, tal a pouca capacidade mobilizadora que têm demonstrado até aqui. Como tal, na linha que já ouvimos a deputada Isabel Moreira defender publicamente, deviam os três partidos de esquerda ou com conotação mais à esquerda, já que o PS não tem sido claramente um partido de esquerda, discutir e encontrar uma proposta de governação dentro do aceitável pelos portugueses onde os mais esquerdistas e radicais teriam de centrar algumas posições e os mais moderados do PS teriam de esquerdizar um pouco os seus capitalistas interesses. Já vimos em algumas autarquias que esse entendimento é possível e até com bons resultados.
Somos adeptos de uma solução de esquerda e que defenda a manutenção no euro, que defenda a manutenção na UE, que defenda o pagamento da divida, mas com uma clara renegociação de prazos e de juros. Poderiam até comprometer-se em ter deficit zero ou ser excedentários se a renegociação for bem feita. Sabemos que para controlar a divida temos de acabar com o deficit, temos de conseguir pagar o stock anual de divida sem recorrer a mais endividamento. Parece-nos básico que temos de cortar nos pagamentos anuais e uma das rubricas que se tornará intransponível é a da amortização da divida se os montantes a amortizar anualmente nos obrigarem a contrair mais divida sistematicamente para solver esses pagamentos.
O livre acesso aos mercados não é nem nunca foi a panaceia que resolve magicamente tudo. Pois não foi indo livremente aos mercados que construímos a ruinosa situação que temos? E não foi debaixo de um plano de resgate que continuámos a agravar a situação? O que tem sido este plano, se não um continuar a financiar de forma assistida o orçamento público, como se de mercados se tratasse? Apenas tendo controlado a taxa de juro para o tempo que dure a assistência.
Necessitaremos de consolidar a divida, e renegociar a sua liquidação para um período não inferior a 30 anos e com uma taxa de juro inferior ao crescimento expectável. De outra forma nenhuma política, por mais austera e fazedora de miseráveis, nos levará ao ambicionado fim, financiar-se livremente nos mercados a uma taxa de juro suportável e colocar o endividamento abaixo dos 60% admissíveis pela UE.
O QUE ESTARÃO, ESTES PASSARÕES DOS TRÊS PARTIDOS MAIS À ESQUERDA, À ESPERA PARA TENTAREM ENCONTRAR UMA SOLUÇÃO CONJUNTA PARA ESTE MALTRATADO PAÍS?
SERÃO NECESSÁRIAS ALGUMAS MEDIDAS RADICAIS, MAS SE BEM EXPLICADAS, SERÃO BEM ACEITES PELOS PORTUGUESES, TALVEZ MENOS PELOS MAIS FAVORECIDOS ATÉ HOJE, MAS GENERICAMENTE TOLERADAS.

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