Poesia

Rosa brava

Rosa brava simples e pura
floresces no jardim do meu sonho
em intenso aroma de fruta madura
inquieta o não te ter, é até medonho.

És querer desde quando nasce a Lua
és querer até quando o Sol sai do alto
és o meu querer eterno em sereno sobressalto.

Tete 06/10/2017

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Poesia

Meu segredo

Como lua, brilhas no escuro do meu céu
como fogo, és calor no frio dos meus dias
como gatilho, disparas minhas ideias vadias
como rede, prendes meu amar em doce véu.

Sim… amo-te no segredo de uma certa clandestinidade
amor calado, de um desejo intenso, próximo da insanidade.

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Poesia

Sinto vergonha de mim.

Sinto vergonha de mim
por ter sido educador de parte deste povo,
por ter batalhado sempre pela justiça,
por compactuar com a honestidade,
por primar pela verdade
e por ver este povo já chamado varonil
enveredar pelo caminho da desonra.

Sinto vergonha de mim
por ter feito parte de uma era
que lutou pela democracia,
pela liberdade de ser
e ter que entregar aos meus filhos,
simples e abominavelmente,
a derrota das virtudes pelos vícios,
a ausência da sensatez
no julgamento da verdade,
a negligência com a família,
célula-Mater da sociedade,
a demasiada preocupação
com o ‘eu’ feliz a qualquer custo,
buscando a tal ‘felicidade’
em caminhos eivados de desrespeito
para com o seu próximo.

Tenho vergonha de mim
pela passividade em ouvir,
sem despejar meu verbo,
a tantas desculpas ditadas
pelo orgulho e vaidade,
a tanta falta de humildade
para reconhecer um erro cometido,
a tantos ‘floreios’ para justificar
actos criminosos,
a tanta relutância
em esquecer a antiga posição
de sempre ‘contestar’,
voltar atrás
e mudar o futuro.

Tenho vergonha de mim
pois faço parte de um povo que não reconheço,
enveredando por caminhos
que não quero percorrer…

Tenho vergonha da minha impotência,
da minha falta de garra,
das minhas desilusões
e do meu cansaço.

Não tenho para onde ir
pois amo este meu chão,
vibro ao ouvir o meu Hino

e jamais usei a minha Bandeira
para enxugar o meu suor
ou enrolar o meu corpo
na pecaminosa manifestação de nacionalidade.

Ao lado da vergonha de mim,
tenho tanta pena de ti,
povo deste mundo!

‘De tanto ver triunfar as nulidades,
de tanto ver prosperar a desonra,
de tanto ver crescer a injustiça,
de tanto ver agigantarem-se os poderes
nas mãos dos maus,
o homem chega a desanimar da virtude,
A rir-se da honra,
a ter vergonha de ser honesto’.

Rui Barbosa

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Poesia

Mãe

Mãe é quem gerou e quem pariu

Mãe é aquela que ralhando ajudou

Mãe é a que ainda está ou já partiu

Mãe é amor que a vida nunca mudou

Mãe é vida, senhora forte, que não fugiu

Mãe é um querer muito que jamais findou.

Bamako, 7 de maio de 2017

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Poesia

Os cães da infância

São os cães da infância os cães dementes
ladrando-me às canelas do passado
cães mordendo-me a vida com os dentes
ferrados no meu sexo atormentado.

Paguei cada minuto do presente
com vergões de amor próprio vergastado
porém só fala quem se não consente
vencido temeroso ou amarrado.

Contra os cães uivo. Não me fico assim.
Não tenho pai nem mãe. Nasci de mim
macho e fêmea gerando o desespero.

Lutar é tudo quanto sou capaz.
Não me pari para viver em paz.
Tudo o que sou é menos do que eu quero.

Ary dos Santos

 

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