“Ne nuntium necare”: Não mate o mensageiro.
A frase anterior é um proverbio latino que foi surgindo das lendas sobre o rei da Pérsia Dário III, que quando derrotado por Alexandre o Grande resolveu matar Charidemos, que foi quem lhe deu a notícia dos resultados da guerra. Também Gengis Khan muitas vezes matava os mensageiros das más noticias ou das notícias que não queria divulgadas.
Esta introdução serve apenas para tentar caracterizar a argumentação de algumas pessoas que, ao arrepio do que é normal e razoável, atacam as pessoas e o seu caráter em vez de tentarem explicar se as decisões que, essas pessoas, tomaram e fundamentaram são corretas ou erradas.
Um bando de “pseudoletrados” e “conhecedores”, ontem sobre o caso Lula, mas também em muitas outras ocasiões, argumentam com a anterior filiação política ou cargos do juízes para atacarem as suas decisões sobre Lula ou outros elementos do PT no caso da justiça brasileira e em várias situações mesmo em Portugal. Ora isso não é mais que a tentativa rasteira de enlamear para tentar ter razão sobre um assunto em que sabem não ter razão nenhuma… as ordens judiciais cumprem-se, como cumpriu Lula e sua defesa as ordens de Moro, mesmo, as ilegítimas. Depois, quando se entende que elas carecem de razoabilidade, apresentam-se as devidas reclamações ou recursos, sempre utilizando as ferramentas processuais que a lei determina para o efeito.
Tornou-se esta atitude de atacar o caráter a única base, nas redes sociais e não só, da análise que os indigentes da intelectualidade utilizam para apoiar ou denunciar as decisões favoraveis ou apoios de terceiros conforme gostam ou não gostam dessas decisões e apoios.
É claro que toda a gente sabe que todos os juízes têm cor política… isso é perfeitamente legitimo e até desejável enquanto cidadãos, o que não podem, os juízes, é deixar que essas suas preferências determinem os seus comportamentos quando decidem sobre um qualquer assunto de interesse público, entenda-se como interesse público o fazer justiça.
Esta atitude, no caso de ontem em relação ao Lula, diz muito mais das pessoas que a usam, atacando a legitimidade do tal juiz Favreto, do que da pessoa que tentam enxovalhar. Fazem-no porque sabem que são parciais e colocam os seus interesses pessoais acima de todos os outros. Enquanto tal, estando numa situação dessas decidiriam em favor dos seus ódios ou amores pessoais, logo imaginam que todos os outros são parciais como eles próprios. Simples assim.
Pior, é que ao usarem essa argumentação rasteira, legitimam que outros o façam em sentido contrário… no caso em análise ontem na “justiça” brasileira e na operação Lava Jato, esses outros poderiam até fazê-lo perante o que até agora se conhece dos comportamentos dos juízes e procuradores nos processos, sobretudo os do Lula…conferencias de imprensa PowerPoint, entrevistas de juízes do TRF4, comportamentos ilegais de Moro em escutas, conduções coercitivas e intervenções em processos sem legitimidade para o fazer. Dessas intervenções ilegítimas de Moro, a última das quais ontem ao obstaculizar, por simples ódio ou interesse politico, a libertação de Lula decidida por um juiz de um tribunal superior. Mais ilegitima se torna quando o processo já não lhe diz, nenhum, respeito por já não estar na sua alçada e por não ser o juiz responsável pelo cumprimento da pena. Fica uma pergunta perante tal comportamento: O que motivará Moro?
Para todos os outros que suportam e até rejubilam com a decisão de Moro, Gebran e Flores deixo umas quantas perguntas:
— O que vos motiva na vontade de manter Lula preso quando a sua condenação pode muito bem ser anulada ou atenuada nas instâncias superiores?
— Parece-vos que Lula quer fugir para não cumprir prisão ou que é um perigo solto para a sociedade?
— Será que vos incomoda que ele se instale como candidato e faça campanha política para as eleições?
— De que têm medo se sabem, como dizem, que a maioria não gosta dele?
— Sabem que a lei, inconstitucional, que permite a prisão em segunda instância não a obriga automaticamente e que ela carece de apurada fundamentação?
— Qual a fundamentação para que Lula esteja preso em segunda instância?
— Sabem que à luz da constituição brasileira Lula é inocente a coberto da tal presunção de inocência até transito em julgado das sentenças condenatórias?
— Acham que alguém inocente, em abstrato, deva estar preso?
Bem sei que as respostas dos possuidores de mau-caráter serão as que derem jeito à sua vontade em cada caso… é por isso que são gente de mau-caráter.
Termino dizendo que eu também acho, por convicção, que tudo o que está a acontecer a Lula na justiça é por interesse dos seus inimigos políticos… para o impedirem de vencer outra vez as eleições. Acho também que os procuradores da Lava Jato, Moro, alguns juízes do TRF4 e até noutras instâncias superiores são parte nesse processo de impedir Lula de ser candidato por medo que ele ganhe as eleições. Também acho que ao não pautar, no plenário do STF, as ações declaratórias que visam pôr fim à prisão em segunda instância, Cármen Lúcia quer prejudicar objetivamente Lula por saber que a lei cairá. Mas as minhas suposições e convicções valem o mesmo que as de todos os outros, ou seja, nada. O que realmente conta é cumprir os procedimentos que determinam as leis e a constituição brasileira, até agora os únicos que não o têm feito são os que têm agido contra os interesses de Lula violando as leis e extravasando competências.