Hoje tendo a sorte ou azar de estar sentado numa mesa de um pacato centro comercial da cidade de Coimbra, estavam a meu lado um membro do ainda governo e um administrador hospitalar reputado em conversa, conversa essa, de que eu mais ou menos inadvertidamente ouvi partes…
Vou apenas reproduzir uma frase dessa conversa para não ser muito mau, ainda que não tenha nenhuma obrigação de reserva…
“ Ainda não sabemos o que se vai passar, mas estamos com medo, algum medo.”
Ora esta frase vinda de um membro do ainda governo é indiciadora de alguma coisa, de que terão eles medo:
1- Do que emanar democraticamente da Assembleia da República?
2- De perderem o lugar de poder?
3- De que sejam descobertas coisas que queriam manter encobertas?
4- De por se julgarem seres superiores acharem que será sempre pior ter outros a governar mesmo que essa seja a vontade da maioria dos eleitos para a AR?
5- Ou apenas medo da mudança por ser uma mudança e essa demonstrar que se pode governar diferente e obter melhores resultados?
Seja medo do que for, não deixa de ser sintomático que se tenha medo de uma coisa que resulta de eleições livres e democráticas. Será isso revelador da existência nas mentes de certa gente da ideia que são donos de uma superioridade moral e que pertencem a uma casta superior? Se for por isso que estão com medo, a esquerda ideológica a que pertenço rejubila com esse sentimento pacóvio de medo e pode facilmente tranquilizar essa gente acerca do que lhes pode acontecer fisicamente… Ninguém lhes irá torturar, nem obrigar ao exilio, nem perseguir em termos laborais, nem expropriar-lhe as posses.
Por isso não tenham medo e convençam-se de duas coisas simples: Governar é um serviço ao país que devem querer com honra enquanto a maioria dos governados assim quiser, e o estar agarrados ao poder é um defeito e não uma virtude.
Também tínhamos visto ontem na televisão a ainda ministra Assunção Cristas numa pose bélica e sem compostura, que não se pode entender num membro do governo. O atacar António Costa enquanto pessoa é coisa de aldeã sem instrução ao falar da sua vizinha com quem está desavinda, não o tentar encontrar pontos de convergência nas ideias de cada partido com vista a um acordo que permita viabilizar um governo, como será obrigação de um líder partidário que esteja em plena posse das suas faculdades intelectuais.
Mas os medos e fobias retiram com frequência a capacidade aos humanos de raciocinar claramente… Parece-nos essa a causa do desnorte a que os membros dos partidos da atual governação estão votados desde que surgiu a hipótese da esquerda (BE e CDU) se entender com o PS com vista a formação de um governo suportado por uma maioria parlamentar.
Temos visto até o aparecer de um conceito novo: “ tradição constitucional” que não sabemos bem o que é… Para nós a constituição é um conjunto de regras concretas e definidas e que perante determinadas situações a serem resolvidas indica claramente o caminho para as soluções. Nem sequer precisa de grandes rasgos intelectuais para ser interpretada, muitos menos admite as distorções que certos comentadores e membros dos partidos da coligação PaF lhe têm querido colar.
Há pérolas anti-democráticas de todos os géneros como as comparações bacocas de Marques Mendes ao dizer que a associação à esquerda dos deputados na AR com vista à viabilização de um governo de esquerda era semelhante às duas seleções que estão em terceiro e segundo lugar no grupo de apuramento de Portugal se unirem para ter mais pontos e assim levarem uma seleção ao europeu… Estará o homenzinho a fazer de nós loucos ou está também pelo medo imbuído da loucura coletiva a que a direita está sujeita com a ideia de entendimento à esquerda e perdeu o equilíbrio cognitivo? A terceira hipótese seria a de tentar fazer humor com a situação, mas dada a posição em que está o seu partido não nos parece que fosse essa a intenção e apenas trata os portugueses como um povo atrasado mental.
Se enquanto povo nos deixamos enganar desta forma e não fazemos valer os nossos direitos constitucionais merecemos ter como governantes um bando de idiotas bafientos, mal intencionados de índole perversa e ideologicamente perigosa.