Hoje mais uma vez o meu Benfica perdeu na praia, sempre nos descontos temos de levar um golo que nos torna infelizes.
Por toda a tristeza das derrotas do meu clube, também pela assustadora situação financeira e económica do nosso país, ao que devemos juntar a falta de competência daqueles que nos governam e até a patetice de um tal Cavaco, presidente da república e a religiosidade da sua Maria, vou deixar um poema de Teixeira de Pascoaes que define claramente o meu estado de alma hoje.
NAS TREVAS
Como estou só no mundo! Como tudo
É lagrima e silencio!
Ó tristêsa das Cousas, quando é noite
Na terra e em nosso espirito!… Tristêsa
Que se anuncia em vultos de arvoredos,
Em rochas diluidas na penumbra
E soluços de vento perpassando
Na tenebrosa lividez do céu…
Ó tristêsa das Cousas! Noite morta!
Pavor! Desolação! Escura noite!
Phantastica Paisagem,
Desde o soturno espaço á fria terra
Toda vestida em sombra de amargura!
Êrma noite fechada! Nem um leve
Riso vago de estrela se adivinha…
Sómente as grossas lagrimas da chuva
Escorrem pela face do Silencio…
Piedade, noite negra! Não me beijes
Com esses labios mortos de Phantasma!
Ó Sol, vem alumiar a minha dôr
Que, perdida na sombra, se dilata
E mais profundamente se enraiza
Nesta carne a sangrar que é a minha alma!
Ilumina-te, ó Noite! Ó Vento, cála-te!
Negras nuvens do sul, limpae os olhos,
Desanuviae a bronzea face morta!
Oh, mas que noite amarga, toda cheia
Do teu Phantasma angelico e divino;
Espirito que, um dia, em minha irmã,
Tomou corpo infantil, figura de Anjo…
E para que, meu Deus? Para partir,
Com seis annos apenas, no primeiro
Riso da vida, em lagrimas, levando
Toda a luz de esperança que floria
Este êrmo, este remoto em que divago…
Como estou só no mundo! Como é triste
A solidão que faz a tua Ausencia,
E o terrivel e tragico silencio
Da tua alegre Voz emudecida!
Ó noite, ó noite triste! Ó minha alma!
Tu, que o viste e beijaste tantas vezes,
Tu, que sentiste bem o que ele tinha
De angelica Creança sobrehumana,
Não vês as proprias cousas como soffrem,
E como as grandes arvores agitam
As ramagens de lagrimas e sombras?
Repára bem na lugubre tristêsa
Da nossa velha casa abandonada
Da divina Presença da Creança!
Ah, como as portas gemem e o beiraes
Têm soluços de vento…
Lá fóra, no terreiro onde brincavas,
A noite escura chora…
Ó minha alma,
Embebe-te na dôr das Cousas êrmas;
Chora tambem, consome-te, soluça,
Junto á Mãe dolorosa, de joelhos…
Teixeira de Pascoaes, in ‘Elegias’
PARECE QUE NADA NOS CORRE BEM ULTIMAMENTE, AOS PORTUGUESES, EM GERAL, PELA INCOMPETÊNCIA DOS QUE NOS GOVERNAM.
AOS BENFIQUISTAS, EM PARTICULAR, PELA MALDIÇÃO DOS DESCONTOS.
A MIM, PELA CASCATA DE DESGRAÇAS DE QUE TEIMO EM NÃO ME LIBERTAR.