Carta a uma ideia…
Desde Portugal, mais propriamente de Coimbra, cidade com uma universidade que teve o privilégio de atribuir, justamente, ao homem Lula da Silva, o doutoramento Honoris Causa, escrevo esta humilde carta que lhe enviarei para Curitiba onde espero já não esteja quando a missiva chegar.
Escrevo para dizer, o que sabe com toda a certeza, que o mundo esclarecido está de olhos em si e fará a sua defesa intransigentemente pondo pressão sobre a diplomacia brasileira para que esta faça ponderar o judiciário, nos seus patamares superiores, de forma a que sentenças injustas, proferidas por raivosos perseguidores, de níveis mais baixos do judiciário, não façam caminho longo na história.
Digo-lhe que acredito piamente na sua inocência e essa minha crença não é porque enquanto presidente matou a fome a muitos; porque fez muitos serem universitários; porque deu casa a quem não tinha; porque deu boa cara, internacionalmente, ao Brasil; porque fez do Brasil a sexta maior economia do mundo; porque era recebido com honra e prazer por todos os lideres mundiais nem tão pouco porque nasceu pobre e ascendeu até presidente do Brasil… é sim porque do que li até hoje do processo, e foi tudo o que é acessível publicamente, ainda do que li na sentença, da qual fiz leitura atenta e integral logo na hora em que ficou publicamente disponível, concluo que não há, uma única, prova indesmentível de que o cidadão Lula da Silva tenha, em tempo algum, cometido algo que possa configurar crime de acordo com o CPP Brasileiro, ou sequer de acordo com qualquer código moral ou ético possa configurar qualquer ataque ao que é socialmente aceitável.
Como o tempo, estupidamente, é o da justiça temos de usar argumentação jurídica para fazer valer essa inocência, coisa que os seus advogados estão a fazer de forma brilhante ao meu ver. Pese embora a questão política ser a razão de tanta gana em prender e da pressa em fazer o processo do Triplex passar diante de centenas de outros mais antigos no TRF4, para evitar uma candidatura ganhadora, creio não ser a abordagem da prisão política o caminho que colhe melhores resultados na defesa dessa sua inocência.
Em termos pessoais e emocionais digo-lhe que gostava que se tivesse oposto, com a não entrega, à prisão que eu considero ilegal e inconstitucional, mas entendo a decisão. Primeiro porque evitou altercações, que se iriam gerar, obrigatoriamente, quando a policia quisesse pela força prende-lo e em segundo porque age de acordo com um sistema judicial com o qual concorda filosoficamente e do qual espera absoluta seriedade.
Como atrás já disse o tempo é da justiça e deixemos que seja ela a corrigir os erros e desmandos de uns quantos justiceiros que se julgam, eles, fora do alcance da justiça. Não estão e certamente saberão, depois, os seus advogados agir a preceito contra eles.
Ser um visionário tem custos, mais ainda quando valores enquistados em certas sociedades são beliscados. Foi o que o meu amigo fez (perdoe-me tratá-lo desta forma afetuosa porque não nos conhecemos) ao tirar da pobreza tantos, tocou no orgulho dos mais abastados, ao colocar ao lado destes abastados e elitistas, favelados, negros e todos os tipos de pobres a estudar lado a lado, ao colocar gente da senzala sentado no avião lado a lado com os senhores da casa grande.
Construir uma estrada capitalista que leva ao “comunismo” e deixo essa palavra comunismo entre aspas porque sei que o seu projeto não é um projeto de natureza revolucionária Marxista, mas quer aproximar os pobres da dignidade e dar aos mais frágeis, condições de vida na maior igualdade possível com os mais abastados. Essa estrada terá obrigatoriamente de passar nos quintais de alguns dos “elitistas” que estupidamente acham que vão perder, entendem que perderão porque vivem num registo mental que não se compadece com a evolução e com o crescimento económico que a vida inexoravelmente impõe a todos. Por esse entendimento julgam que os ganhos de uns serão feitos em cima do prejuízo de outros e não é assim obrigatoriamente. Já o contrario é uma evidência, mesmo havendo crescimento económico, sem políticas sociais fortes, todo o crescimento apenas vai engordar, ainda mais, os já gordos financeiramente.
Espero que resista como bom guerreiro que é, não será longa a injustiça a que está a ser sujeito se a justiça reentrar nos eixos e sair da alçada desse pequenote da história, juiz Moro, que viu na grandeza do Homem que Lula da Silva é, uma forma de se alavancar ao estrelato. A sala do edifício que hoje lhe serve, fisicamente, de encarceramento, que o meu amigo inaugurou e o seu governo financiou é com toda a certeza mais cómoda, materialmente, do que os sítios onde viveu a sua meninice. Encontre nisso conforto emocional e pense que essa melhoria de condições de vida é generalizada à maioria da população brasileira, o que foi um sonho seu e uma conquista sua de que muito se deve orgulhar.
Finalizo com uns afagos à sua mente:
– Guardo, religiosamente, o seu discurso de tomada de posse onde diz que: “se conseguir que no fim do mandato todo o brasileiro tenha café da manhã, almoço e janta, então já valeu a pena chegar a presidente.” Cito de cabeça, espero não andar longe do que disse efetivamente na altura. Pois saiba que isso hoje já não é tema e que esse não ser tema deve-se a si e aos governos do PT com a sua inspiração. Bem-haja por tal feito.
– Digo-lhe também que perante as ameaças de processos, a divulgação de escutas ou implicações em condutas menos dignas feitas a outros políticos brasileiros, a generalidade dos apoiantes declarados deles apagou fotos nas redes sociais e escritos que os ligavam a esses políticos, por vergonha… já o meu amigo, mesmo preso, arrasta milhões de apoios e pode ver o orgulho com que os seus apoiantes se identificam nesse seu apoio a Lula sem nenhum tipo de reservas. Nesses que o apoiam incondicionalmente e militantemente inscrevo-me, orgulhosamente, eu.
– Um qualquer, juizeco, pode ordenar o prender de uma estrela, mas jamais poderá ordenar que a estrela deixe de brilhar…
– “Lula já não é humano, Lula é uma ideia…” e uma ideia seguida por milhões não só no Brasil mas no mundo inteiro.
Coimbra, 10 de Abril de 2018