Poesia

Insanidade

Cabeça em turbilhão,
Palpitantes vontades,
Calores no frio inverno,
Desejos indomáveis,
Libido em alvoroço,
Impulsos e sonhos incontáveis.
Tudo, tudo sem o mínimo de nexo…
 
Por ti, minha cabeça e coração são apenas sexo.
 

D.J 20/01/2023

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Poesia

Inquietação outra

Fresca e sensual, passas pelos dias
Sem te deixares abalar pela insistência.
És grito que ecoa profundamente
Nas entranhas de certa alma,
Desejo intenso que faz perder a calma
E o coração, tonto, por ti, bate loucamente.
Provocadora de calafrios e desnortes
Vontades indómitas de possuir, conquistar…
Teu ar, sensual, faz fracos mesmo os fortes
E ficas dor, dessas, que faz um homem gritar.
Sem alcançar a viva e pecadora vontade
és apenas eterna e dura consumição.
Sobressalto da libido,
sonho de maldade,
desejo carnal,
orgasmo sonhado,
és inquietação.
Teu nome: “de pequena guerreira”.
Bem seria: tentação.
És descontrolo, és um tudo e és um nada,
és querer premente,
és tempestade,
és violenta inquietação.
D.J. 16/09/2020
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Diário, Reflexões
Superioridades…
Há gente que julga bem entender o mundo e que os que pensam diferente de si são tolos, não se dando conta que o universo é mais do que papas e bolos…
Só pode haver um pensar, aos que dele desafinam, não querem nem ouvir falar…
Não discutem, não querem contraditório, porque tal os obriga a pensar, a sua perceção basta-lhe e só com ela querem o mundo olhar…
Se o seu querer está satisfeito, se todos os dias as antenas lhes servem um mundo perfeito, que se não estrague o equilíbrio, seja com opiniões políticas, armas ou paus.
Os que estão com eles são bons e os que pensam ou querem um mundo diferente são maus…
Vive-se na espuma dos dias sendo guiados por aquilo que conhecem e pelas narrativas e comunicação dos senhores, esses senhores, que seus particulares interesses não trazem à luz…aos da superioridade não lhes interessa apurar o facto que tal espuma produz…
Uns são brutos e rasteiros outros mais polidos e educados mas usam da mesma intransigência, os que pensam diferente não são para aturar e todas as suas frases são julgadas como tonta impertinência…
Se algo é dito que ao seu pensar se opõe, seja opinado por um burro ou por um ilustre doutor…é coisa para não querer escutar e de imediato recusam e com arrogância deixam sair aquilo que os habita, um pequeno ditador…
Não têm pejo algum em pôr em causa longas relações e causas comuns se num qualquer assunto a visão é diferente, e preferem o afastar…
O que de decente levará tal gente a, perante ver diferente, assim se colocar?
Não há no mundo certezas nem de um lado bons e do outro maus, nada é absolutamente perfeito e se um é coxo o outro é manco…
A mundial paleta de cores não se divide entre preto e branco.
Pior são os que de ajuda aos frageis pouco ou nada fazem se a coisa está ao seu alcance mas se a coisa é de nível extratosferico logo se perfilam pela pseudo vítima…
Mas calma, salta a hipocrisia quando a mesma coisa acontece e é o agressor que defendem, culpam a vítima e entendem a agressão legítima.
Os tais da superioridade cultivam ódios de estimação mesmo que tais ódios não saibam explicar…
Parece que não entendem que discutir sem superioridade é o que a bom porto pode o navio levar.
Com frequência as discussões e argumentos dos superiores vão do assunto debatido e suas ideias base para o discutir o debatente…
Como se discutir aquele que se lhe opõe ao ideário fosse de interesse ou coisa inteligente.
Se a ser, legitimamente, brutos todos temos divino direito, também nós devemos poder dizer sem grande respeito, em bom vernáculo português…
Essa gentinha que se julga superior que se fodam todos, e de uma só vez.
Dakar, 16 de Maio 2022

Dinis Jesus

Citação
Reflexões

1- A nossa entrada (na CEE) vai provocar gravíssimos retrocessos no país, a Europa não é solidária com ninguém, explorar-nos-á miseravelmente como grande agiota que nunca deixou de ser. A sua vocação é ser colonialista.

2- A sua influência (dos retornados) na sociedade portuguesa não vai sentir-se apenas agora, embora seja imensa. Vai dar-se sobretudo quando os seus filhos, hoje crianças, crescerem e tomarem o poder. Essa será uma geração bem preparada e determinada, sobretudo muito realista devido ao trauma da descolonização, que não compreendeu nem aceitou, nem esqueceu. Os genes de África estão nela para sempre, dando-lhe visões do país diferentes das nossas. Mais largas mas menos profundas. Isso levará os que desempenharem cargos de responsabilidade a cair na tentação de querer modificar-nos, por pulsões inconscientes de, sei lá, talvez vingança!

3- Portugal vai entrar num tempo de subcultura, de retrocesso cultural, como toda a Europa, todo o Ocidente.

4- Mais de oitenta por cento do que fazemos não serve para nada. E ainda querem que trabalhemos mais. Para quê? Além disso, a produtividade hoje não depende já do esforço humano, mas da sofisticação tecnológica.

5- Os neoliberais vão tentar destruir os sistemas sociais existentes, sobretudo os dirigidos aos idosos. Só me espanta que perante esta realidade ainda haja pessoas a pôr gente neste desgraçado mundo e votos neste reacionário centrão.

6- Há a cultura, a fé, o amor, a solidariedade. Que será, porém, de Portugal quando deixar de ter dirigentes que acreditem nestes valores?


7- As primeiras décadas do próximo milénio serão terríveis. Miséria, fome, corrupção, desemprego, violência, abater-se-ão aqui por muito tempo. A Comunidade Europeia vai ser um logro. O Serviço Nacional de Saúde, a maior conquista do 25 de Abril, e Estado Social e a independência nacional sofrerão gravíssimas ruturas. Abandonados, os idosos vão definhar, morrer, por falta de assistência e de comida. Espoliada, a classe média declinará, só haverá muito ricos e muito pobres. A indiferença que se observa ante, por exemplo, o desmoronar das cidades e o incêndio das florestas é uma antecipação disso, de outras derrocadas a vir.

Natália Correia
Todas as citações foram retiradas do livro “O Botequim da Liberdade”, de Fernando Dacosta.»

Natália Correia

Citação
Reflexões
É na letra da música “Sempre Ausente”, (www.youtube.com/watch?v=0fKWsZgwawU)  do Variações, que encontro afago quando desejo que os culpados/acusados/indiciados por crimes de colarinho branco escapem das garras da justiça.
A moda que hoje tenta culpar pela pobreza e endividamento do país ou até pela desigualdade, como ouvi ultimamente a uma ilustre procuradora jubilada, mais não é que uma, estúpida, caça às bruxas.
A exposição, o enxovalho e assassinato de carácter, seja de Rendeiro, Pinho, Campos, Manteigas, Pina, Mexia, Godinho, Vara, Penedos, Sócrates, Bava, Granadeiro, Berardo Duarte Lima, Arlindo Cunha, Oliveira e Costa ou Dias Loureiro entre outros, parecem-me sempre coisa ignóbil.
Entendo até que o caminho não devia ser o criminal e antes o cível, com pagamento dos valores com respetivos juros associado a processos de perda de cargo para os titulares e processos disciplinares para funcionários, caso se provasse que haviam prevaricado.
Deixa-me verdadeiramente triste/confuso que gente que foi por governantes e instituições dado como exemplo de construtores do engrandecimento do país, frequentemente endeusados pela populaça e admirados servilmente até condecorados em nome do povo, passem a ser tratados como criminosos e atirados para a miserável exposição para gáudio de carrascos, adversários políticos, imprensa e populaça em total semelhança com o atirar às feras dos condenados gladiadores no circo romano. Sim é de um circo que se trata. Pior, nesse circo, sinto-me um animal, o asno, por me terem enganado durante anos mostrando-me amiúde a extrema qualidade dessas pessoas que hoje me mostram como presumíveis criminosos. Detesto sentir-me enganado seja antes ou agora.
Tenta assim, com estes casos, um modelo insustentável e desigual, encontrar desculpa para as suas insuficiências e com elas vai manipulando as frágeis cabeças de quem tem que lutar para alcançar o pão de cada dia.
Devo lembrar que Portugal anda, há uma dúzia de anos, muito próximo da média Europeia em termos índices de corrupção. Acima dos 60 pontos em 100 e num índice em que o país melhor classificado tem 88 pontos. O que em termos classificativos nos deixa entre os 30 países menos corruptos dos 180 avaliados.
Mesmo assim a perceção dos portugueses é a de que em Portugal a corrupção é generalizada.
Depois não se admirem que os populistas de extrema direita vão capitalizando.
” Lá vai o maluco
   Lá vai o demente
   Lá vai ele a passar
   Assim te chama toda essa gente
   Mas tu estás sempre ausente e não te
    conseguem alcançar “

Dinis Jesus

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Diário

Um voto para todos os dias do ano

Duas dezenas de pessoas da área da cultura e da universidade, incluindo vários ex-militantes do Partido Comunista Português, assinam um artigo, que aqui reproduzimos, no qual explicam os motivos pelos quais é importante defender a força do partido.

Um partido “dogmático” e “sectário”, “avesso à mudança” e “que só sabe protestar”, um partido “anacrónico” e “parado no tempo”. É a estes termos que o PCP é frequentemente reduzido. A redução terá motivações diversas. Há quem critique o PCP por desejar o seu enfraquecimento, mas quem o faça por outras razões. Pedimos a estes últimos que leiam as linhas que se seguem.

Nas últimas décadas, foi sendo recomendado aos comunistas portugueses que optassem por um de dois caminhos: fazerem do PS um inimigo de classe idêntico aos partidos da direita ou, em nome do combate a esta mesma direita, moderarem o programa comunista a ponto de este se confundir com o dos socialistas. Ora, o PCP tem sabido rejeitar os termos deste mesmo dilema, recusando quer uma via retórica de mera hostilização ideológica do PS, quer a rendição à lógica do “fim da história” em que medram os consensos típicos do bloco central.

Os comunistas portugueses têm rejeitado, uma e outra vez, as soluções de política económica tidas como “evidentes” e “inevitáveis”, que se imporiam porque “estamos no século XXI” ou porque as “regras europeias são o que são” – soluções e regras que têm gerado estagnação económica, desigualdade social e insustentabilidade ambiental.

Mas esta rejeição não impediu que os comunistas portugueses dessem o apoio decisivo a Mário Soares, na sua primeira eleição presidencial, ou a Jorge Sampaio, no governo de Lisboa. E a persistência da oposição comunista ao capitalismo tão pouco impediu que Jerónimo de Sousa, já em 2015, tivesse vindo abrir caminho à “geringonça”, resgatando António Costa da derrota eleitoral que sofreu diante de Passos Coelho.

Durante os últimos seis anos, o PCP deu ao PS de António Costa condições para governar. Recebeu, certamente, muito menos do que aquilo que deu. E os trabalhadores também. Com “paciência revolucionária”, para glosar Jerónimo de Sousa, os deputados comunistas assentiram que um partido minoritário permanecesse, por um tempo recorde, à frente do governo do país. O voto comunista foi decisivo para a aprovação de sucessivos orçamentos de estado e um garante da estabilidade governativa em Portugal durante seis anos.

Esta situação poderia prolongar-se por mais anos, se se avançasse em áreas onde a herança da troika continua a pesar decisivamente, das relações laborais desequilibradas ao investimento público estiolado. O PS não quis avançar. E aqui chegados importa compreender que a estabilidade política não pode ser o primeiro desígnio com que um partido de esquerda se compromete. Porque o PCP está também comprometido com as aspirações de mudança manifestadas pela força dos mais fracos. Como bem disse Jerónimo de Sousa no recente debate que o opôs a António Costa, “um pobre tem uma reivindicação de fundo”, que um salário de 700€ não satisfaz, “e que é deixar de ser pobre”.

O reforço do PCP nas eleições do dia 30 de janeiro é importante porque a esquerda precisa de gente disponível para conversar de forma exigente e leal, com princípios e sem acrimónia. Os deputados comunistas são gente dessa, gente comprometida com a soberania democrática. E se António Costa tem, por ora, fechado a porta à solução governativa que em 2015 o fez Primeiro-Ministro, então mais necessário é apoiarmos quem abriu caminho a esse princípio de alternativa.

O reforço do PCP é importante também por outras razões. Sem a força dos comunistas, a dependência externa do país seria ainda maior. A força dos comunistas é também a de um povo que resista e responda a ditames externos em matéria económica ou de política internacional. É a força de uma esquerda popular que tem uma perspectiva internacional e assume uma posição anti-imperialista – uma força que, como afirmam os deputados comunistas ao Parlamento Europeu, não se esquece que a União Euopeia não é a Europa.

Finalmente, mas não menos importante, é certo que sem a força dos comunistas o destino dos trabalhadores nos pequenos e grandes conflitos laborais, que são travados quotidianamente nas empresas, seria mais sofrido e menos justo. Porque a força comunista é também a que apoia o sindicalismo, entre outros movimentos sociais. Por isso dizemos que um voto no PCP em dia de eleições é um voto para todos os dias do ano.

Alice Samara, Historiadora
André Carmo, Professor Universitário e Dirigente Sindical
Ana Estevens, Geógrafa
Ana Margarida de Carvalho, Escritora
Bárbara Carvalho, Musicóloga e Dirigente Associativa
Fernando Ramalho, Livreiro e Músico
Golgona Anghel, Professora Universitária
Isabel Almeida, Professora Universitária
Joana Simões Piedade, Jornalista e Mediadora Cultural
João Ramos de Almeida, Jornalista
João Rodrigues, Economista
Joaquim Paulo Nogueira, Programador Cultural
José Neves, Historiador e Delegado Sindical
Luís Gouveia Monteiro, Jornalista e Docente Universitário
Manuel Loff, Historiador
Maria João Brilhante, Professora Universitária
Miguel Chaves, Sociólogo
Miguel Ribeiro, Programador de Cinema
Nuno Teles, Economista
Pedro Cerejo, Tradutor
Pedro Vieira, Escritor e ilustrador
Tiago Mota Saraiva, Arquiteto

 

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